Nova leva de montadoras chineses já afetam o mercado local de maneira "tectônica", afirma o banco
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Foto: BYD Brasil/ Divulgação; |
O aumento no fluxo de entrada de carros chineses no país tem transformado o mercado automotivo de maneira intensa, incluindo o reflexo na queda de preços para veículos, tanto elétricos como os movidos à combustão. O BTG Pactual montou um longo relatório para avaliar o impacto da chegada de montadoras como BYD e GMW no Brasil, seja via importação ou, mais recentemente, produção local.
Essa mudança forte veio como positiva para competidores de mercado como WEG, que ganhou mais ritmo no seu projeto de carregadores para veículos, indica o banco. Porém, o fato não vem da mesma forma para locadoras de veículos como Localiza e Movida, que pode podem enfrentar um cenário de depreciação elevada de seus veículos seminovos - que já vem alta desde a ressaca no mercado automotivo pós-pandemia.
"O cenário mais provável é que os players de locação de veículos carreguem taxas de depreciação mais altas por mais tempo e não necessariamente uma depreciação mais alta em relação aos níveis atuais (já que elas já estão próximas das máximas históricas)", aponta a equipe liderada por Lucas Marquiori.
Ainda que os carros chineses não sejam exatamente uma novidade no Brasil, a nova onda é de modelos que caíram nos gostos dos brasileiros. "A acessibilidade e o reposicionamento bem-sucedido das marcas levaram os brasileiros a se apaixonarem pelos carros chineses. Essa mudança é impulsionada pela percepção muito melhorada da qualidade do produto e outro fator-chave: o crescimento dos veículos elétricos", escrevem os analistas.
Atualmente, as marcas chineses já chegaram a marca de 7,5% das vendas de veículos novos no Brasil (BYD + GWM) e a partir deste ano serão "grandes demais para serem ignoradas e se tornarão uma fortaleza na indústria automobilística do Brasil". Se observadas as importações apenas de carros elétricos, os chineses já responderam por 35% das unidades que chegaram ao Brasil.
Com a pressão da concorrência local, o governo acenou com a recomposição das tarifas de importação, que voltam para o patamar integral de 35% até 2026 para híbridos e elétricos, tanto BYD quanto GMW decidiram começar a produzir no Brasil, o que deve trazer uma presença ainda maior no mercado nacional – com resposta de montadoras como Toyota e Stellantis, que também estão ampliando investimentos aqui de olho na eletrificação.
Num documento de 94 páginas, o BTG detalhou várias implicações da nova ofensiva das montadoras chinesas no mundo – com lições a serem tiradas do aumento de participação em outros mercados, como a Europa e a China.
Mas um dos aspectos mais interessantes diz respeito à dinâmica de preços no Brasil. Em meio à ressaca pós-pandemia, que fez os preços dos veículos dispararem com a falta de oferta, é difícil cravar que a queda mais recente na cotação dos carros diz respeito somente à nova fonte de concorrência.
Porém, olhando a dinâmica de preços nos principais modelos por faixas de preços, o BTG encontrou significância estatística para cravar que o jogo virou ao menos na competição com os demais elétricos.
A entrada da BYD com o Dolphin, seu hatch elétrico, por R$149 mil atraiu muita atenção, resultando em 3 mil pedidos em 3 meses de lançamento.
Depois da chegada do Dolphin, concorrentes diretos responderam com cortes de preços. O Renault Kwid E-Tech, precificado a R$ 150 mil, caiu R$ 10 mil em agosto e R$ 16,5 mil neste mês, para R$ 123,5 mil. Preços de outros modelos, como o JCA JSI e o Caoa/Chery iCar, também recuaram.
A competição de intensificou com a recente chegada do GWM Ora3, precificado entre R$ 150 mil e R$ 184 mil, que chega ao mercado nesta semana.
“Essa pressão de preços se estendeu além dos modelos elétricos e híbridos para afetar as SUVs à combustão no mesmo intervalo de preço. A resposta do mercado sublinha a crescente influência das montadoras chinesas em moldar a dinâmica de preços no setor automobilístico brasileiro”, ressalta o BTG.
Ainda que a eletrificação da frota de veículos no Brasil tenha gerado muito debate, por conta da nossa vocação para biocombustíveis, o aumento da presença dos elétricos é uma tendência que veio para ficar, segundo o BTG.
E as montadoras chinesas estão acelerando esse caminho no Brasil – o que grandes oportunidades para as empresas de bens de capital no país. Uma das maiores beneficiadas é a WEG, de motores e equipamentos eletroeletrônicos.
Em parceria com a Volkswagen a WEG já havia desenvolvido motores elétricos para caminhões chamados de e-Delivery, uma tecnologia que também se estende a ônibus.
A empresa também estuda a inserção de seus produtos no mercado de carros leves, mas esse nicho já tem boa parte de sua demanda atendida pelo desenvolvimento de motores elétricos próprios. Ainda assim, a companhia teria espaço para também crescer com a instalação de estações de carga.
Considerando os três principais impulsionadores de crescimento (caminhões elétricos, ônibus elétricos, carregadores), a equipe avalia que a eletrificação poderia representar 7,7% da receita da WEG a longo prazo (3,5% de caminhões elétricos + 3,9% de ônibus elétricos + 0,3% de carregadores).
A Tupy é outra fabricante que deve começar a se beneficiar da nacionalização da produção, em especial pela maior penetração de motores híbridos flex, pela demanda de blocos de ferro fundido ultraleves.
No entanto, parte importante das oportunidades, deve vir da maior demanda por reciclagem de baterias. A empresa investiu na melhoria de sua capacidade metalúrgica para facilitar o aumento da vida útil das baterias. “Essa jogada estratégica a posiciona para explorar a tecnologia de veículos elétricos”, escrevem os analistas.
Já a fabricante de ônibus Marcopolo está com projetos de eletrificação já há algum tempo, inclusive em parceria com a BYD. Embora a demanda no Brasil ainda seja pequena comparada a outros mercados, ela é crescente. A expectativa é de que 20% da frota de ônibus de São Paulo, maior cidade do país, seja composta por veículos elétricos.
Fonte: Exame; Texto: Exame;